terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O Quarto II

- O carro é todo teu. Tu que vai dirigir e fazer o que bem entender, não irei opinar em nada.
Foi assim que começou o encontro de Fulana naquela quente noite de primavera porto alegrense.
- O.K. Tem certeza? – disse ele.
- Sim, tenho. Fulana falou dando um beijo na boca de Beltrano e indo fazer o contorno no carro. Abriu a porta, sentou no banco do carona e simplesmente se divertiu vendo a cena onde Beltrano, tentava se ajeitar com banco, câmbio, embreagem, que a partir daquele momento pertenciam a ele. – Aonde vamos? Ela quis saber. – Não tínhamos combinado o local hoje à tarde? Beltrano perguntou olhando para ela com jeito intrigado. – Sim, tínhamos. Sei aonde vamos. Mas quero saber qual lugar vamos? Ele ficou olhando para ela por mais meio segundo, virou para frente e disse com aquele sorriso de canto de boca: - Por quê? Vai querer opinar? Fulana revirou os olhos, olhou pela janela aqueles borrões passando com velocidade por eles. – Não, não irei opinar como disse antes. Apenas curiosidade. Passou.
Beltrano colocou a mão na perna de Fulana e rindo disse: - Me divirto.
Conversaram sobre o tempo, calor, sobre a semana carregada de trabalho, chefe, casa, todas essas coisas que as pessoas conversam quando não se tem assunto para falar. Passando uns 10 minutos, chegaram ao destino esperado. O motel. Fulana, completamente confusa, envergonhada, pois Beltrano não é seu namorado, ou nem ao menos é seu ficante. Ele é apenas “o casual”. Eles se conheceram em uma festa quando eles tinham 13 anos, dizendo o Beltrano, pois ela não lembra nem do café da manhã de hoje. (Já disse que ela sofre de perda de memória? Sim, sofre). E depois viraram amigos e colegas de colégio. E muitos anos depois se encontraram em uma festa, cerveja vai, absinto vem, conversa fora, risadas, danças juntos, aquela coisa de saudade dos tempos de adolescência e um beijo aconteceu. Ficaram. E a partir dali, Fulana (já disse que ela também é neurótica – obsessiva?) começou a se interessar pelo amigo de colégio. Mas ele, para variar, não estava nem aí com ela. Mas teve algumas vezes que ficaram, e um dia, muito casualmente chegaram às vias de fato. E por isso que agora, Fulana se encontrava nessa situação estranha para ela, pois nunca havia acontecido nada parecido em sua vida. Beltrano escolheu o quarto, entraram e a primeira pergunta de Fulana foi: - Cadê o banheiro? – Ali. Respondeu ele. – Ali do lado da banheira? Fulana perguntou espantadíssima apontando para o vaso sanitário. – Mas onde fica a privacidade das pessoas?
– Aqui tudo que as pessoas não querem é privacidade. Beltrano respondeu com cara de divertimento.
- Sim, tudo bem. Mas se eu quiser fazer xixi, tu vai ver e ouvir? Nossa, que constrangedor.
- Fulana, ta mesmo interessada onde tu vai fazer xixi e se vou ouvir?
- Mas que dúvida se não. Ela respondeu.
- Tudo bem, vamos fazer o seguinte: Quando tu quiser realmente fazer xixi eu saio do quarto, ok?
Nisso, Fulana já estava pensando em seu pijama e se aquilo tudo valia realmente a pena.
- Tudo bem. – disse ela por fim – sai do quarto, quero fazer xixi.
Ele parou de fazer o que estava fazendo, olhou para ela para ver se aquilo era brincadeira, mas quando viu que ela não estava brincando, levantou e saiu do quarto resmungando algo como: “figura!”.
Só que na verdade ela queria dar uma olhada no lugar onde ele a tinha levado. Olhando travesseiro, cama, banheira, lençol, toalha, viu que o lugar era legal, disse que ele podia entrar. (Comentei que ela é meio estranha?).
Conversaram mais (não sei de onde sai tanto assunto nas horas que não era para ter assunto nenhum), beijos, abraços, carícias, Fulana tenta tirar o vestido, mas o tal resolve não sair. O vestido fica lá, no meio da cabeça, entalado nos peitos. Fulana vendo que não iria obter ajuda de Beltrano, simplesmente respira fundo e fala: - dá para dar uma mãozinha, não sei se tu percebeu, mas ele não ta querendo sair. Ele solta uma gargalhada e a ajuda. – Constrangedor, heim? Diz ela quando o vestido já não está mais na vista de nenhum dos dois. – Nada. Não esquenta com isso. - Beltrano diz, tentando confortá-la. No fim, as coisas acontecem como esperado (assim ela espera, e eu também). Beltrano resolve ir para a banheira. Fulana fica deitada ouvindo uma musica legal, quando ela ouve um barulho estranho de encanamento. A água quente para a banheira simplesmente não desce. Eles se olham com cara de “não acredito que isso esteja realmente acontecendo”. Ligam para a portaria e informam do problema. Com cara de paisagem, tanto eles como a pessoa que veio resolver o problema (viu como faz falta um banheiro? Fulana podia estar lá neste momento), trocam meias palavras, resolvem aquela coisa totalmente embaraçosa e tudo fica bem. Alguns dias depois, ouvi dizer que eles repetiram a dose do motel.....

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